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De: Maria J A C I N T A Bola Ramos é MESTRE 12 junho 2018
Para: 
Assunto: Maria J A C I N T A Bola Ramos é MESTRE 12 junho 2018
18-06-2018
 

 

 

 

"Considerando a originalidade e o valor cientifico da tese, bem como o

nível com que decorreram as provas, júri deliberou, por unanimidade, 

atribuir o resultado de "aprovado", com a menção de "Muito Bom"

á Mestre Maria Jacinta Bola Ramos."

 

data de provas de doutoramento, 12.06.2018

 

 

 

Carta aberta...

 

 

Há seis anos, começava eu um novo caminho na minha vida.

Depois de muitos anos a viver exclusivamente de e para os concertos, deu-se o vazio, precisava de mais... estava na hora de saber mais, refletir sobre a minha prática performativa.

 

Concorri então ao Doutoramento em Música, tendo sido seriada em 3º lugar, num processo que incluiu a análise curricular, um ensaio escrito e ainda um recital de Jazz, onde tive a acompanhar-me a grande pianista Michele Ribeiro.

Passou o primeiro ano, um ano curricular, e deparava-me com muita teoria, teoria essa que nem sempre fazia sentido no contexto dos meus interesses de investigação, mas por achar que fazia parte do percurso, submeti-me a todas as propostas de aprendizagem que me foram apresentadas.

Seguiram-se as avaliações escritas e as avaliações práticas, estas novamente em forma de recital. No primeiro recital convidei os músicos que na época trabalhavam comigo, para fazerem o favor se juntarem a mim num projeto que era meu e que, a eles, institucionalmente, não lhes trazia nada. Agradeço, por isso, aos músicos, Pedro Costa (piano), Álvaro Rosso (contrabaixo) e Filipe Monteiro (bateria) por me terem acompanhado nesta minha e só minha aventura. Não posso esquecer o trabalho de som da minha manager, Maria Joana Pereira, nem o excelente trabalho da colega Iara Souza que trabalhou as luzes como só ela sabe. Foi, no fundo, mais um concerto.

 

Nota final; 18 valores...

 

No entanto, as críticas do júri foram unânimes. Tinha que sair da minha “zona de conforto”. Assim o fiz - solicitei à Universidade de Aveiro que me conseguisse um co-orientador, que conhecesse a linguagem do jazz performativo, para que eu pudesse ir mais longe. A Direção do Curso de Doutoramento aceitou convidar o excelente pianista Abe Rabade. Desloquei-me a Santiago de Compostela apenas duas vezes para receber orientação, já que não havia meios de custear as vindas do professor a Aveiro... assim ficou... foram apenas dois encontros lá e um terceiro encontro cá, em Aveiro, na Universidade, a que se seguiu um segundo recital.

 

Apesar de todo o reportório ser de Jazz e de ser acompanhada por um músico de Jazz de excelência, o encontro em palco com o Abe era o primeiro e infelizmente, até agora, foi único. Apresentámos um reportório bem difícil, com arranjos meus, devidamente identificados. Foi só piano e voz e muita improvisação, muito domínio do ritmo e da técnica, Jazz, puro e duro.

 

Nota: 18 valores...

 

Não mais me encontrei com o Professor Abe para qualquer orientação; não que não houvesse disponibilidade minha ou dele, mas não havia disponibilidade de verba por parte do curso.

A minha orientação passa então a ter contornos mais teóricos, o que nunca me incomodou. Contudo, o caminho que me era proposto, no meu entender, não fazia qualquer sentido no contexto dos meus interesses de investigação: a performance em jazz.


Nisto entram os timmings... prazos a cumprir e propinas a pagar, não tão baratas quanto isso: a módica quantia de 2.750€ anuais. Mas a verdade é que não tive quem me acompanhasse no aprofundamento dos meus interesses em Jazz, vertente que desde a primeira hora da minha entrada para este curso doutoral sempre deixei claro ser o meu interesse central, já desde a apresentação do meu curriculum, do ensaio escrito e do recital que me permitiram aceder a este ciclo de formação. Penso que ninguém no meu programa doutoral poderia duvidar que o Jazz era e é o meu objeto de estudo.

 

Entretanto, por imposição das tarefas académicas previstas pelo plano curricular do curso, vi-me obrigada a submeter um projeto de tese com o qual não concordava na totalidade, mas que era preciso cumprir por razões de calendário escolar. A alternativa seria perder um ano, o que era impensável para mim. No entanto, era-me assegurado que posteriormente à apresentação deste documento haveria, como se verifica na maior parte dos projetos de doutoramento, toda a abertura para o redirecionar especificamente para a minha área de interesses, à medida que a investigação se fosse concretizando.

 

Até esse momento, tinha a perceção de estar num percurso normal de uma aluna normal, num doutoramento em Performance, cuja vertente específica seria o Jazz. Estava até confiante no futuro do meu doutoramento, pois tinha sido avaliada com 18 valores em dois recitais e o projeto tinha sido aprovado com 15 valores.

 

O que eu não sabia, porque nunca me tinha sido dito, é que em caso algum, com mais adaptação ou menos adaptação do projeto inicial, eu jamais poderia fazer um doutoramento de performance em Jazz naquele Programa de Doutoramento... porquê? Porque a autoridade reguladora do ensino superior (A3ES), tinha proibido explicitamente o Programa Doutoral em Música da Universidade de Aveiro de formar qualquer aluno na especialidade de performance em Jazz, por esta instituição não ter um corpo docente com experiência na área. O que, na prática, e da pior maneira, vim a verificar ser corretíssimo. 


E na verdade, foi assim que tudo começou a entrar numa outra história, onde provei o amargor do poder académico na sua versão mais dura e autocrática: insistindo eu em fazer um doutoramento em performance em Jazz a única resposta que passei a obter é que eu,  enquanto doutoranda, estava presa a um projeto que, afinal, não podia ser  alterado (quando a prática generalizada de investigação em qualquer universidade, portuguesa ou estrangeira, e mesmo noutros departamentos da UA, é a de que os alunos comecem por um projeto que é apenas um ponto de partida, para em seguida, sobretudo após uma revisão de literatura mais aprofundada, descobrirem possibilidades de diversificação da sua investigação).

 

Ora isto é que não pareceu aceitável ao meu Programa Doutoral: apesar de não estarem autorizados pela A3ES a deixarem-me prosseguir em performance em jazz também não admitiam alterações ao projeto que me havia sido proposto como apenas um ponto de partida, para mais tarde ser dirigido para uma das áreas que se aproximasse mais dos meus interesses.

 

Foram vários anos de desânimo, mas sempre a estudar e a aprender, até porque ao mesmo tempo, fazia concursos em universidades no Brasil, para os quais eu tinha que estudar muito e que me fizeram evoluir muito.


Entre Brasil e Portugal e um doutoramento inquinado na UA, muitas conversas se tiveram, muitas coisas foram ditas, inclusivamente com troca de emails, nos quais foi posta em causa a minha idoneidade como professora, investigadora e aluna, insinuando mesmo que eu estaria a pressionar o Departamento de Música para fazer uma qualquer tese, simplesmente porque, segundo muitos, só cheguei ao lugar de cantora de Jazz conhecida do grande público, porque tive muita “Sorte”... 

 

Foi então que decidi que o meu percurso teria que passar por um outro contexto académico onde os meus pares acreditassem em mim, na minha potencialidade e dessem valor ao rumo que eu pretendia dar à minha investigação.

 

Solicitei então ao Conselho Científico da Universidade de Aveiro que me transferisse para o Doutoramento em Estudos Culturais, onde me pareceu que tais condições estavam reunidas. No entanto, apesar dos pareceres favoráveis quer da minha orientadora quer da Diretora do Programa Doutoral em Estudos Culturais, aquele órgão recusou a minha mudança (ao contrário do que tem sido prática muitas vezes utilizada e aprovada a colegas de cursos doutorais que conheço na Universidade de Aveiro)...

Não ficamos por aqui... 

Em reunião com as autoridades académicas da UA, fui aconselhada a voltar ao meu Programa Doutoral original e a tentar mudar de equipa de orientação. Fiz um estudo dos curricula dos professores do Departamento de Música, procurando os que estivessem mais próximos da área dos Estudos Culturais e da metodologia Auto-Etnográfica que me interessava aplicar, a partir da minha atividade de performer em jazz vocal. Pedi uma reunião com uma professora que, prontamente, me recusou a orientação...

 

Acredito que qualquer pessoa, neste caminho, já estivesse completamente sem forças para continuar e levar a bom porto aquele projeto, que já tinha iniciado nos finais de 2012. Estávamos no início de 2017.

 

E lá vem a “Sorte”, ou não... deitei mãos à obra e com a ajuda da única professora, que neste processo houvera acreditado em mim, segui o meu rumo. 

 

Felizmente não foi um processo isolado, porque fui enquadrada num grupo de investigadores com quem me encontrava pelo menos mensalmente e cujo objetivo consiste em trocar experiências e ideias relacionadas com as dificuldades e soluções próprias aos processos de investigação científica. Com apoio mútuo, companheirismo, ânimo e solidariedade, constituíram uma ajuda preciosa para não desistir do meu rumo, continuando a acreditar que seria capaz de levar o meu projeto a bom termo.

 

E já quase no final de 2017 faço o que talvez poucos acreditassem, ao candidatar-me ao grau de doutora, com uma tese auto-proposta, ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, no Programa Doutoral em Estudos Culturais.

 

Foram vários meses de espera, de análise da minha tese, calculo que de uma análise levada ao pormenor e com o maior rigor, dada até a circunstância de ser um aluna auto-proposta. Até que o dia da defesa foi marcado para 12 de Junho de 2018.

 

Com autorização da UFPI, Universidade Federal onde dou aulas no Brasil, rumo a Portugal para a preparação da defesa da minha tese. 

Ontem foi o grande dia... 

3h de muita concentração, de muitas perguntas e respostas, de um debate muitíssimo interessante e intelectualmente estimulante, para no fim o MEU Doutoramento ser APROVADO com a nota máxima existente na Universidade do Minho. - MUITO BOM, por Unanimidade.

 

Provavelmente agora vem a dita ressaca, mas sempre com um sorriso nos lábios, porque esta vitória, já ninguém me tira.

 

Obrigada aos meus pais que, mais uma vez, apostaram em mim, obrigada aos meus verdadeiros companheiros de aventura. Um obrigada muito especial à Professora Doutora Maria Manuel Baptista.


Obrigada também a todos os amigos reais e virtuais que sempre me apoiam.


A vida segue e eu seguirei com a minha determinação, os meus intentos e desejos, aos quais não posso deixar de ser fiel. De qualquer modo, seja qual for a vertente da minha atividade – cantora, professora ou investigadora -  eles nunca deixarão de passar pela música e pelo Jazz.
 

  

 

 

 

 

 

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